Por que as pessoas se casam?

Não sei quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha. Na verdade, me refiro à outro tipo de ovo e de galinha, totalmente diferentes dos tradicionais. Ando pensando muito, todos os dias, em uma simples pergunta: “Por que as pessoas se casam?” . A resposta é complicada, não sei  se se casam por amor ou se amam para se casar…

Antes de mais nada, vamos colocar os pingos nos I’s: Meu casamento está ótimo, tenho certeza que fiz a escolha certa quando decidi dividir o resto da minha vida com o meu marido.

– Então porque c**** você não para de pensar nesse assunto?

Calma! Eu explico:

– É justamente por conta dessa minha certeza toda de que fiz a escolha certa quando me casei, essa minha ausência de dúvida.

Pois é, gostar de escrever é basicamente arrumar sarna para se coçar, questiono tudo que existe no mundo, mas principalmente o que não existe. É isso mesmo, tento olhar para dentro, não só pra dentro de mim, mas para dentro do mundo. Enfim, o fato é que justamente por achar meu casamento tão natural e feliz, comecei a comparar experiências de amigos, parentes e até mesmo conhecidos, e me dei conta de que eu estava levantando um tapete grande, e que provavelmente iria encontrar muita sugeria embaixo dele. Cada vez que pensava em exemplos diferentes eu me perguntava: Se existem tantas histórias de casamentos curtos que só magoaram os dois, de casamentos longos repletos de mentiras. Afinal, por que essas pessoas se casaram?

Na verdade, mesmo arrotando modernidade quando criticamos religiões, países conservadores, igualdade dos sexos e etc, nós não a pregamos quando o assunto é casamento. Digo isso porque, antes de pensarmos em amar alguém, já somos obrigados a conviver com a pressão de que um dia nós devemos nos casar. Esse pensamento é natural em uma cultura onde os três pilares principais são: ser bonito (a), ser feliz no trabalho e fazer parte de uma família perfeita e feliz. Essa falsa ideologia nos transforma em pessoas obcecadas pelo corpo perfeito com direito a chapa quente no cabelo, cultivar quadrados em alguns lugares do corpo e círculos em outros, nos faz procurar insistentemente pelo trabalho que nos faz mais feliz do que comer Nutella de pijama e, finalmente, pelo casamento tão perfeito que virará modelo no facebook e terá milhões de comentários abaixo de cada foto postada.

Pára tudo!! Pára esse trem e vamos descer e conversar!

Para mim sempre foi óbvio que quando eu fosse escolher um companheiro nós, além de nos amarmos, estaríamos completamente felizes em dividir absolutamente tudo. E neste caso, “tudo” significa tudo mesmo, incluindo: minha TPM, o futebol até tarde, a dor de barriga que não te deixa sair do banheiro por um dia inteiro, a falta de dinheiro, as tarefas da casa, as viagens de férias, os planos para o futuro, a morte de parentes próximos, a demissão, a depressão, o medo, a falta de confiança, o excesso de confiança, os erros, os acertos, o nascimento dos filhos, as noites em claro, a forma de educá-los, ficar longe de nossas famílias se fosse preciso….enfim, dividir a vida. Não estou dizendo que o casamento é difícil, pelo contrário, se ele está sendo difícil demais é porque talvez tenha errado na escolha, mas sem dúvidas o casamento é algo sério e bastante complexo. Sempre digo que não tinha como ser ruim me casar com meu marido, pois eu estava me casando com meu melhor amigo, que me fazia rir, entendia minha vida e minhas piadas, me amava e me queria por perto, genuinamente, o máximo de tempo possível. Sei que existem modelos diferentes de relacionamento que dão tão certo quanto o nosso, mas uma coisa é fato, é preciso haver prazer em estar junto, não se pode aceitar um relacionamento aonde é preciso insistir para estar com seu parceiro no final de semana, ou se ver mais de uma vez por semana. Um relacionamento assim, talvez não se adapte à vida de casado no futuro. Coincidência ou não, a maioria dos casais felizes que conheço sentem saudade do outro quando por algum motivo estão fazendo sozinhos tarefas simples que costumavam fazer juntos, como assistir a novela, ir ao supermercado e etc. É o prazer da companhia. Isso vale ouro em um relacionamento. É por isso que não consigo digerir a ideia de casais que obrigam um ao outro a se casar, que se pressionam, que forçam a situação ou fazem ameaças. Se a pessoa precisou de um empurrão para casar-se contigo, acho que ela não aprecia tanto a ideia de passar todos os dias ao seu lado, ela não aprecia sua companhia, e isso para mim já seria motivo suficiente para sair pela porta e não voltar nunca mais, mas não é o que geralmente acontece. Afinal, quem nunca ouviu um amigo ou amiga dizer, eu penso em casar com o fulano(a), mas ele foge do assunto, diz que não quer casar, talvez só quando tiver 40 anos. Obviamente cada um tem seus motivos, alguns são racionais e se preocupam com dinheiro, com o conforto do outro e etc, isso acho justo e válido, desde que seja mencionado e planejado junto, o que questiono é o parceiro que trata casamento como contrato de escravidão, pensa que isso seria perder sua vida, sua liberdade. Alguém que pensa desta forma, talvez esteja lhe enxergando de forma errada e não aprecie estar com você mais tempo do que com os amigos do futebol ou as amigas do trabalho…

Também tem o outro perfil, o oposto, aquele que ama tanto a ideia do casamento que acha que deve se casar com qualquer namorado(a) que está saindo há uma semana. Esse perfil é sem dúvida o último romântico que o Lulu Santos menciona em sua música, mas como eu disse antes, casamento é algo que envolve sentimento, mas também deve envolver muita racionalidade e, principalmente, um conhecimento profundo do outro. Quando nos casamos por impulso, por amar desenfreadamente alguém que está somente há meses nas nossas vidas, podemos nos deparar com uma rotina torturante após o casamento, quando descobrimos que essa pessoa não tem o ritmo e os gostos parecidos com o nosso, ou simplesmente porque não conhecemos o temperamento real dela, apenas pelo fato de que ainda não vivemos todo tipo de situação ao lado dela. Não existe nada pior do que descobrir depois do casamento que escolheu casar-se com um alcoólatra, ou alguém muito agressivo ou extremamente depressivo. Claro que esses problemas não são o fim do mundo, desde que você saiba da existência deles antes e esteja disposto à enfrentá-los e encará-los juntamente com seu parceiro. Mas, como eu mesma digo, para toda regra existem lindas exceções, tenho certeza que muitos casais que se conheceram e casaram-se em um mês passarão uma vida inteira juntos, assim como os meus pais. Quando falo sobre isso, falo sobre uma maioria esmagadora, mas sei que não são todos os casos. O principal, para mim, sempre foi amar com a cabeça no lugar e sempre me lembrar do meu amor próprio. Eu sempre preferi simplesmente não arriscar achando que seria a exceção, talvez o preço seria alto demais caso eu estivesse errada.

A verdade é que nós, jovens, precisamos nos habituar a pensar na frente e não na festa. Precisamos tratar o casamento com mais responsabilidade, tratá-lo como uma decisão permanente e não temporária. Se for entrar em uma igreja, em um cartório ou na porta da casa do seu namorado com suas malas, nem entre se estiver pensando “Se não der certo a gente separa”. Entenda que dali em diante não é mais só você, só o seu coração. Já que ama seu companheiro(a), se comprometa, se esforce, seja quem você gostaria de ter ao seu lado, seja você o parceiro perfeito. Somente desta forma, sem armas e sem manuais de instrução, apenas com 100% de amor e 500% de vontade é que se consegue estar casado todos os dias. Muitas vezes casar-se significa mudar completamente sua referência do que é certo e errado, significa às vezes escolher perdoar algo que há pouco tempo atrás você aclamava aos quatro cantos ser imperdoável, significa tentar sempre, se esforçar a cada segundo. Você se desconstrói e reconstrói todos os dias para se adequar ao que for preciso, simplesmente pelo fato de que isso tudo vale muito a pena, simplesmente porque ama e sente que é amado, e sabe que quem ama também erra, também cansa, também duvida e, principalmente, também muda.

Casar, palavra que para muitos significa festa e tratam como se tivesse uma data para aquele evento, quando na verdade serão todas as datas dali para frente. Fico irritada quando alguém fala: Meu casamento foi lindo!!

– Oi? Mas ele acabou?

– Não!

– Então agora ele ta feio? Porque você falou no passado?

– É que estou falando da minha festa de casamento.    

Ahhh, tá! É que casamento não é festa! É exatamente a mesma coisa quando as pessoas dizem “Vou ter um bebê”. Não! Você vai ter um filho, que vai crescer, ficar adolescente, ser chato e depois ficará adulto. A velha mania de enxergar só o óbvio, o fácil, o poético, e que no caso do casamento, depois que já assinaram o papel, gastaram milhares de reias em uma festa e mobilizaram os parentes que moram no Nordeste ou no Japão, chegam em casa e percebem que o buraco é muito mais embaixo, que o significa de dividir a vida é também dividir seu tempo, fazer escolhas, e algumas delas não lhe agradarão e sim apenas seu parceiro(a), e claro, acabam se machucando e machucando muitos à sua volta quando decidem desfazer tudo isso. A consequência desse erro não é mortal, mas é dolorosa. Para mim tudo que dói deve ser pior do que morrer. Ja berrava Fred Mercury com suas calças justas na década de 80 “It started off so well, they said we made a perfect pair, I clothed myself, in your glory and you love, how I loved you, how I cried…”.

É uma dor profunda, não só pela perda, mas pelo fracasso. Isso é o resultado daquela sociedade que comentei lá em cima, que trata o casamento como meta, como obrigação. Ele precisa aparentar perfeito, mas quando a verdade vem à tona, o mundo desmorona dentro e fora de casa. É como ser famoso e estar nas primeiras páginas dos jornais com a noticia de que sua escolha foi errada, ou que você foi traído, ou que ele (a) nunca te amou. Esse jornal chama-se rede social, aquela mesma que fizemos questão de postar a foto de terno e vestido branco esbanjando sorrisos. Ela agora, sem nossa permissão, deixa que as pessoas olhem nossos álbuns, vejam que deletamos as fotos com ele(a), que mudamos nosso status de relacionamento e que estamos há alguns dias calados, sem postar nada. Nós somos vítimas de nós mesmos depois que o mundo começou a se comunicar online. Embora eu não concorde que a separação é um fracasso, não posso negar que sempre que converso com alguém recém separado sinto essa energia, e também sinto a mesma energia quando as pessoas comentam sobre o fato. É claro que certas separações são um presente divino, uma ajuda do céus para que possamos recomeçar, mas não podemos ignorar que se separar significa mexer com o coração, o ego, a auto-confiança, significa mexer com tudo, dar explicações para quem não tem absolutamente nada a ver com isso, ouvir opiniões de quem nem se quer se importa com você e, em meio à tudo isso, criar forças para abandonar os sonhos e recomeçar, sem parar de trabalhar e de malhar. Ufa! Precisa ser super-herói.

A boa noticia é que não existe nada melhor do que se casar com alguém especial, nada será chato e você amará chegar logo em casa para passar seu melhor momento do dia ao lado dessa pessoa. Outra noticia boa é que sua vida pode ser maravilhosa sem se casar com ninguém, você pode cultivar bons amigos, namorar muito, estar próximo de sua família e desfrutar da vida. Outra noticia boa é que você pode errar mil vezes, desde que tenha verdadeiramente tentado acertar. Simplesmente não existem regras, o que devemos é viver o agora e aproveitar cada segundo da melhor forma, sem ter a obrigação de fazer nada, fazer apenas por prazer. Como diz meu amigo John Lennon, que me acompanha nas minhas corridas dentro do meu fone de ouvido: Life is what happens to you while you’re busy making other plans.

Pois então viva!

Coloco aqui a música que citei da minha banda favorita (Queen), uma música triste, mas muito linda, que retrata a dor da separação: https://www.youtube.com/watch?v=DqitFnUZ2lU

Também divido com vocês as palavras de John: https://www.youtube.com/watch?v=Lt3IOdDE5iA